os dias acumulam-se sobre a mesa
como peixes palpitantes,e é preciso
removê-los para os rios, antes que apodreçam.
os meses ,os anos, são varejados de tempestades,
e só um pálido sol os contempla quando nuvens
se dispersam,para logo se acumularem
e chove novamente sobre os telhados desabados
os acontecimentos exalam o odor dos eucaliptos,
de rosas murchas,de maçãs fechadas numa gaveta,
e nem o vento que sopra na janela areja a casa
que ficou longamente com os móveis cobertos de lençóis,
com o piano adormecido no canto da sala.
sou um transportador de detritos,mas eles
tornam a juntar-se na beira da calçada
com folhas secas,pedaços de papel,jornais velhos,
fotografias rasgadas,envelopes vazios,
e a hora é breve para ir jogá-los
na vala do aterro sanitário,nas fendas
que se abrem entre os morros decapitados.
não posso abrir um livro sem que uma mariposa
não voe das sua páginas, e logo a tarde murcha
sob a luz de uma lâmparina que ilumina
o vão da escada,que desce interminalvemente
desce sempre para um subterrâneo
onde enxergo o vulto do dia que está acabando
o futuro baila com pés ligeiros atrás da cortina
abro-a, e ele já desapareceu no palco vazio,
onde o ator mudo está sentado numa cadeira
e retira a máscara de um rostro que não têm
essa poesia é maior.
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